domingo, 15 de março de 2020

Detecção precoce de mutações relacionadas a ATL - Rowan e colaboradores 2020


A ATL é uma neoplasia agressiva causada pelo HTLV-1 que acomete células do sangue. As células tumorais são infectadas pelo HTLV-1 e apresentam mutações no seu material genético. 

Em estudo publicado recentemente na revista científica Blood, Dr. Rowan e colaboradores avaliaram o material genético de células sanguíneas de seis indivíduos, de dois a dez anos antes do diagnóstico de ATL. 

O grupo observou que até 10 anos antes do desenvolvimento de doença as células dos pacientes já apresentavam algumas mutações que favorecem a multiplicação celular e são associadas ao desenvolvimento de neoplasia. Além disso, seis meses antes do diagnóstico de ATL o número de mutações aumentou nas células do sangue dos indivíduos que desenvolveram a doença. Os pacientes com ATL apresentavam mais mutações em genes que estão frequentemente alterados na ATL do que o grupo controle infectado com HTLV-1 mas sem sintomas da infecção e que permaneceram sem desenvolver ATL em uma média de 10 anos de acompanhamento. 

Esses dados demonstram que as células infectadas com HTLV-1 e com mutações relacionadas ao desenvolvimento de câncer podem ser detectadas anos antes do desenvolvimento de sintomas. A detecção precoce destas mutações pode possibilitar intervenções terapêuticas para previnir o desenvolvimento de ATL.

Para saber mais: "Evolution of Retrovirus-Infected Premalignant T-cell Clones Prior to Adult T-cell Leukemia/Lymphoma Diagnosis"
Publicado na revista: Blood 2020, disponível online  (ainda em impressão)
https://ashpublications.org/blood/article-abstract/doi/10.1182/blood.2019002665/452636/Evolution-of-retrovirus-infected-premalignant-T?redirectedFrom=fulltext

sábado, 7 de março de 2020

Carga proviral do HTLV na dermatite infectiva e HAM/TSP - Batista e colaboradores 2019



A carga proviral do HTLV-1, conforme discutido em post anterior, é um fator de risco importante para o desenvolvimento de doença associada ao HTLV-1. 
Uma dentre muitas diferentes manisfestações clínicas da infecção pelo HTLV-1 é a  dermatite infecciosa associada ao HTLV-1 (IDH). Esta é uma alteração de pele recorrente que pode acometer crianças infectadas por este vírus.
Já se sabe que pacientes com IDH apresentam carga proviral elevada. Apesar da IDH geralmente desaparecer na idade adulta, os pacientes com IDH podem apresentar predisposição para o desenvolvimento precoce de doenças associadas ao HTLV-1, como a HAM/TSP e a ATL. De fato, um grupo de pesquisadores da Bahia demonstrou que cerca de 50% dos pacientes com IDH desenvolveram HAM/TSP ainda na juventude durante acompanhamento clínico. 
Em um estudo publicado no ano passado, o mesmo grupo de pesquisadores demonstrou que pacientes com IDH e aqueles com IDH e HAM/TSP apresentam carga proviral semelhantes e maior do que os indivíduos assintomáticos. 
Além disso, eles observaram que a carga proviral do HTLV-1 permanece estável no paciente com IDH, mesmo quando ocorre a remissão da doença ou quando este desenvolve HAM/TSP. 
É importante destacar que, neste estudo, nem todos os pacientes com IDH e carga proviral elevada evoluíram para a HAM/TSP. 
Os autores destacaram a importância do monitoramento dos pacientes com IDH, mesmo após a melhora clínica, pois eles permanecem com carga proviral elevada, que pode favorecer o desenvolvimento de doenças associadas ao HTLV-1, como por exemplo a ATL.

Para saber mais: "HTLV-1 proviral load in infective dermatitis associated with HTLV-1 does not increase after the development of HTLV-1-associated myelopathy/tropical spastic paraparesis and does not decrease after IDH remission."
Batista ES, et al.
Publicado na revista: PLoS Negl Trop Dis 2019. PMID 31851683 Free PMC article.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6946163/

quinta-feira, 5 de março de 2020

Transmissão do HTLV-1/2 de mãe para filho

Existem ainda muitas dúvidas a serem respondidas sobre a transmissão do HTLV-1/2 de mãe para filho. Muitos pesquisadores buscam desvendar estes mistérios, para que assim, medidas de prevenção mais efetivas possam ser desenvolvidas e implementadas. 

No entanto, existem algumas informações importantes sobre esta forma de transmissão:

- A transmissão do HTLV-1/2 durante a gestação e no momento do parto é considerada RARA
Apenas cerca de 2,5% das crianças filhas de mães soropositivas que não são amamentadas serão infectadas.

A principal forma de transmissão ocorre pelo aleitamento materno

- Quanto mais longa a duração do aleitamento materno, maior o risco de transmissão do HTLV-1/2.

- Carga proviral do HTLV-1/2 elevada no sangue materno e no leite, são fatores de risco para a transmissão do vírus para o bebê.

- Mães com HAM/TSP e as mulheres co-infectadas pelo parasita estrongiloide apresentam maior risco de transmitir o HTLV-1/2 para o bebê.

- Atualmente, a principal forma de controle da transmissão vertical é a interrupção do aleitamento materno e o fornecimento de formula infantil. Esta medida é recomendada pelo Ministério da Saúde do Brasil e em muitos outros países aonde a infecção pelo HTLV-1/2 é considerada frequente.

Caso você tenha o HTLV-1/2 e seja gestante não deixe de tirar todas as suas dúvidas com um médico.

Lembre-se que para a confirmação do diagnóstico da infecção pelo HTLV-1/2 é necessário a realização de um exame confirmatório (geralmente realizado Western Blot, LIA ou PCR). Apenas o exame reativo no teste de ELISA não é suficiente para a conclusão do diagnóstico da infecção pelo HTLV-1/2

segunda-feira, 2 de março de 2020

O que é a carga proviral do HTLV?

  Um dos exames que pode ser realizado na rotina de acompanhamento dos pacientes com HTLV-1/2 é a quantificação da carga proviral. Neste exame, a quantidade de células que estão infectadas pelo HTLV-1/2 no sangue do paciente é determinada. Para isso, é realizado um teste molecular (PCR quantitativo) que quantifica o número de cópias de material genético do HTLV-1/2 presente nas células do sangue.
  A carga proviral varia bastante entre indivíduos. Porém, ela permanece relativamente estável na maioria dos pacientes ao longo do tempo. 
  Já se sabe que indivíduos com elevada carga proviral apresentam maior risco de desenvolvimento de doenças associadas ao HTLV-1. 
  No entanto, alguns indivíduos com carga proviral alta permanecem sem sintomas durante toda a vida. Assim, parece que carga proviral elevada é um fator necessário, mas não suficiente para o desenvolvimento de doença associada ao HTLV-1. Os indivíduos com carga proviral alta também têm maior risco de transmissão da infecção. 
  Por outro lado, alguns pacientes podem apresentar carga proviral tão baixa que encontra-se abaixo do limite de detecção do teste (carga proviral indectável).
  Infelizmente, ainda não se sabe ao certo porque alguns indivíduos apresentam carga proviral elevada enquanto outros conseguem controlar melhor a infecção pelo HTLV-1/2. Muitos pesquisadores se dedicam para desvendar este mistério e assim poder traçar melhores estratégias para controlar o desenvolvimento de doenças associadas ao HTLV-1 e reduzir o risco de transmissão.
  O exame da carga proviral do HTLV-1/2 ainda não está incluído no SUS sendo geralmente é realizado em centros de pesquisa especializados que encontram-se espalhados pelo país. 



domingo, 1 de março de 2020